Mobilizaçom Europeia na Galiza da Marcha Mundial das Mulheres 22 e 23 de Maio de 2004 European Mobilization in the Galiza of World Marcha of the Women 22st and 23st of May 2004 Movilización Europea en Galiza de la Marcha Mundial de las Mujeres 22 y 23 de mayo del 2004 Mobilisation Européenne dans le Galiza de Marcha Mondial des Femmes 22 et le 23 mai 2004 Mobilizzazione europea nel Galiza di Marcha in tutto il mondo delle donne Europäische Mobilisierung im Galiza von weltweitem Marcha der Frauen 22. und 23. Mai 2004n Mobilització Europea en Galiza de la Marxa Mundial de les Dones 22 i 23 de Maig de 2004

Pequeno Relatório

FÓRUM
Vigo, 22 de Maio 2004
A SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA: ALTERNATIVAS FEMINISTAS

A sala do Centro Cultural Caixanova estava enfeitada com dous murais feitos em material vegetal: um com o logotipo da Marcha Mundial, e outro com uma mulher debuxada em violeta envolta numa espiral que partia do seu embigo, com folhas coladas de plantas que as mulheres trouxeram. Como comentou Carme Adán na apresentaçom, simbolizava a uniom das mulheres com a natureza, da qual indissoluvelmente fazemos parte. E como também comentou Carme e recolheu depois Mª José Guerra, “nom queremos ser princesas”, no dia da famosa boda de estado, que todo o enchia enquanto as mulheres seguimos passo a passo construindo o mundo que queremos.

Neste Foro uma professora, duas sindicalistas do campo e uma mulher da MMM partilharom as suas reflexons, assim como algumas interessantes intervençons das assistentes, mulheres de diferentes países, onde público e ponentes transmitirom a necessidade e o sentimento de urgência de estabelecer redes de colaboraçom entre as mulheres rurais e urbanas, as produtoras e as consumidoras, as de países ricos e empobrecidos.

Mª José Guerra sentou uma base teórica da sustentabilidade humana e ecológica, e como o feminismo e o ecologismo acabarom unindo-se através da prática dando lugar a uma nova teoria, a do ecofeminismo.

Rosa Isela Serrano falou com a clareza da honestidade e de quem sabe muito bem o que dize, desde a auto-organizaçom, e defendeu em especial a soberania alimentar dos povos. Falou de situaçons das mulheres mexicanas que nos som conhecidas às galegas, como a emigraçom.

Lídia Senra falou desde a Galiza, enlaçando as necessidades das mulheres do campo com as das consumidoras/es, o abandono do meio rural e o futuro do nosso país, com a soberania e seguridade alimentares.

Brigitte Verdière informou da realizaçom da Carta das Mulheres à Humanidade, dos seus princípios e metodologia, e leu alguns dos textos relativos ao ambiente, a sostenibilidade e os recursos naturais.

Mª José Guerra Palmero: professora de Filosofia Moral da Universidade da Laguna (Canarias).

Partiu da ideia de que a sustentabilidade ecológica é, enfim, a própria sustentabilidade humana.

A confluência do ecologismo e o feminismo deu-se através do activismo ( nom se partia de uma teoria prévia comum). As mulheres fomos historicamente relacionadas com a natureza, pola tarefa reprodutiva, o corpo, a sexuaçom... e isto foi utilizado para defender a nossa inferioridade.

Actualmente, no feminismo global temos o repto de formar um núcleo comum frente à globalizaçom. Temos que construir alternativas a nível mundial, para eliminar conjuntamente a subordinaçom das mulheres e a destruiçom do meio natural. A feminizaçom da pobreza vai ligada à insostenibilidade do planeta do capitalismo globalizado. Crítica feminista à economia do capital, citando a Cristina Carrasco: o trabalho do cuidado é asignado às mulheres de jeito transcultural; a economia ortodoxa nom considera a sustentabilidade humana, todo esse trabalho nom remunerado caracterizado pola invisibilidade, senom que se centra na produçom, o trabalho, o salário, a monetarizaçom, os bens tangíveis...

A crítica feminista coincide com a ecologista. O cuidado da vida humana deve ser uma responsabilidade social e política.

O mito do homem provedor está já caído, actualmente som muitas mulheres as que mantèm uma família em solitário.

Na nossa luta temos que incluir todos os pontos de vista, especialmente o das mulheres dos países empobrecidos, a fame, a violência, o SIDA...

Rosa Isela Serrano - da Comissom de Coordenaçom da AMMOR, México.

Começou assinalando a necessidade de mais articulaçom das mulheres a nível internacional para salvar o campo.
O conceito de “desenvolvimento sustentável” é como um poliedro com muitas caras. Pode ser visto de duas perspectivas:

- a predominante nas empresas transnacionais: só ambientalista, a curto prazo, fala da exploraçom “racional” dos recursos; e que para o progresso tem que haver concentraçom de recursos económicos como um mal necessário. Nom considera a cultura dos povos afectados por esta exploraçom, a sua economia, sociedade... os recursos biogenéticos. Por exemplo, o plano “Puebla Panamá” atinge toda a zona maia, (parte de México e Panamá) onde se originou essa planta tam familiar na Galiza como o milho.

Sinalou o fracasso da reuniom de Cancún, ao que nom assistirom muitos governos dos países pobres como uma forma de mostrar o seu malestar.

A propriedade dos recursos, da terra, é maioritariamente dos homens; as camponesas possuem um 17 % desta em México, e a nível mundial o 1%. Por isso nom se vê o trabalho das mulheres, mas é essencial. Ademais em México está-se a dar a situaçom de muitas mulheres que ficam ao frente das suas terras e famílias porque os homens emigram.

- O desenvolvimento sustentável como conceito em construçom ; p. ex., desde “Via Campesina” mantem-se uma dupla luta, o que chamam “protesta con propuesta”, contra a liberalizaçom, e a globalizaçom do mercado; o saqueo de sementes, plantas medicinais, agua e cultura.

Na acçom local estám a trabalhar com perspectiva de género. Tentam integrar os elementos femininos: a sensibilidade para identificar os efeitos na natureza e nas crianças das políticas, como nais e mulheres, pois sabemos que nom somos mais do que a natureza, mas parte dela. Tem que haver espaços de intercâmbio, equidade (igualdade) entre géneros e na economia; esperar os momentos propícios para a produçom...
Há grupos de mulheres para alternativas económicas nas mulheres do rural, projectos que aumentam a auto-consciência. Aprendem a exigir ajudas económicas conscientes de que lhes correspondem, em lugar de mendigá-las. Há mulheres cabeças de família que nom tenhem terra em propriedade.

A seguridade e a soberania alimentar deve residir nas camponesas/es e consumidoras/es, deve-se fortalecer o mercado interno.

Acabou avogando por um mundo onde as mulheres nos podamos integrar de uma forma diferente, um mundo onde as mulheres sim existamos, levantando os aplausos das assistentes.

Lídia Senra - Secretária do Sindicato Labrego Galego

Começou sinalando que só conhece dous movimentos frente a globalizaçom: um é a Marcha Mundial das Mulheres, e outro Via Campesina. Assim de clara foi toda a sua intervençom. Colocou a questom da necessidade de redes de mulheres para a colaboraçom, o debate sobre o desenvolvimento sustentável... e felicitou à MMM por abordar este tema, que é muito amplo.

Nom há desenvolvimento sustentável sem a incorporaçom das mulheres; p. ex. na Galiza as labregas tenhem dificuldades para ser isso, labregas, ser titulares de terras, para pagar a segurança social, etc. “Som mulher, som galega, som labrega, som três discriminaçons”.

Nesta ocasiom centrou-se na alimentaçom por dous motivos:

- porque é um direito humano básico

- porque as mulheres temos um importante papel nela: como produtoras, e como as responsáveis de decidir cada dia o que se pôm na mesa; mesmo que nom gostemos, hoje por hoje é assim. E fazemo-lo apenas ao nível doméstico: nom temos poder de decisom nas políticas agrícolas e alimentares. Queremos que a alimentaçom seja suficiente, sana, segura e nutritiva. “Estamos fartas de escuitar a sindicalistas profissionais e governantes dizer que “o mercado manda”, e a dona de casa prefire o produto bonito ao natural da sua terra, de que nos tratem por parvas e por cima responsabilizem às mulheres do que se come".

O trabalho das mulheres é pouco ou nada valorizado: na produçom, na compra...por ex. na lactáncia infantil, se nos dize que o nosso leite “nom vale” e há que comprar leite adaptado, assim as multinacionais nos manejam; metem-nos a ideia de que “só vale o que se paga”, e o nosso leite nom se paga.

Práticas na agricultura: dominam os interesses da indústria agro-química farmacéutica: controlam os governos, os preços... A industrializaçom da agricultura está a chegar à manipulaçom genética, que nom é, em absoluto, como argumentam para “tirar a fame”. Detrás de normas sanitario-higiénicas, está a intençom de expulsar as camponesas do seu posto de trabalho, como a venda directa dos seus produtos na praça que para muitas era o único dinheiro próprio de que dispunham. Isto na Galiza praticamente se eliminou, e de um jeito mais fácil porque era uma actividade de mulheres. Por causa da industrializaçom estám-se a dar cancros, malformaçons fetais polo emprego de pesticidas...

Na Galiza, a desapariçom de postos de trabalho no campo tem um exemplo muito claro no sector lácteo, e em geral levou à situaçom actual de agonia e morte do meio rural.

Frente a isto, a soberania alimentar é básica e um direito fundamental dos povos. Desde o SLG, a Coordenadora Labrega Europeia e a Via Campesina, trabalham alternativas ao desenvolvimento rural, mas nom tenhem poder de decisom, e precisam-se alianças.

As mulheres temos que aprofundar no debate, dotar-nos de auto-estima - a alimentaçom é importante -, incorporar os homens ao 50% na responsabilidade desta. O conceito de “seguridade alimentar” está na moda, mas sem ter em conta as organizaçons de camponesas/es; o que é seguridade alimentar? Há muitos controlos veterinários da carne, mas o que controlam? Muitas cousas, mas nom os resíduos que ficam no nosso corpo depois de comê-la, e quanto aos transgénicos som legais, nom passam nenhum controlo.

Deve haver redes de comercializaçom, deve-se manter a venda directa.

Outro tema relacionado com as mulheres é o das sementes, que estiverom nas suas maos, conservando as tradicionais e transmitindo-as, e hoje já nom há semente autóctone, som compradas.

Brigitte Verdière - do Secretariado Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, Quebeque.

De cara às acçons internacionais da Marcha de 2005, está-se a trabalhar na Carta das Mulheres à Humanidade. Está feito um rascunho e enviado aos grupos da MMM. Tenciona-se que seja um texto colectivo, por isso as contribuiçons serám recolhidas até Julho-Agosto, com elas será elaborado um novo texto, e reenviado aos grupos de todo o mundo. A aprovaçom final será no V Encontro Internacional da MMM, em Dezembro no Ruanda.

Por quê uma Carta da mulheres à humanidade? Em primeiro lugar, a Carta actual nom nos convém; precisamos que emane das próprias mulheres, por isso é importante que participem todas, p. ex.a Via Campesina está a colaborar. A novidade desta Carta é que está dirigida a todas e a todos, aos movimentos sociais que lutam contra o actual sistema patriarcal e capitalista.

É centrada em cinco valores fulcrais: igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz. É feita por e para a Humanidade, com um sentimento de urgência perante a concentraçom de riquezas nas mãos de alguns; os recursos naturais som património da humanidade e para as geraçons presentes e futuras, há que frear a dilapidaçom. “Os bens e os saberes som para todas e todos”, frente à ideologia da competitividade.

As “sociedades sustentáveis”: o DS como progresso é imposto; o humano deve ser a prioridade. Na sociedade que queremos construir queremos democracia participativa, as responsabilidades som dos governos e dos povos. Viver num território com uns recursos engendra direitos e responsabilidades. Queremos seguridade na alimentaçom, vivenda, vida sem violência, e convívio. Impom-se uma forma alternativa de economia, e o valor da ética.

DEBATE

- Uma companheira italiana assinalou que a maioria das europeias nom vivem no rural, mas na cidade. Leu um texto apresentado na FS Europeu de París: “Cuidemos o mundo: desde a casa à cidade e o planeta”: “Em todo o planeta as mulheres encarregam-se de gerar a vida e, mediante o seu trabalho consistente em cuidar, regeneram-na, mas depois som os homens quem dominam a economia, a política e a informaçom, que decidem como hai que viver. (...) A própria Europa vê-se golpeada continuamente por estes desastres e poucas pessoas parecem dar-se conta de que o predomínio masculino ocidental parece mais um aprendiz de bruxo que já nom pode controlar os destroços provocados (...) Nom podemos lavar as maos, entre outras cousas porque se queremos ter um mundo melhor, algo possível e cada vez mais necessário, é fundamental construir com a perspectiva de um mundo multipolar uma Europa social, económica e política que também seja diferente, possível e necessária. (...) Existe uma continuidade entre as antiquissimas sociedades que se reconheciam na Grande Deusa, a Deusa Nai, e as afirmaçons do ecofeminismo do s.XX, em particular no pensamento de Vandana Shiva, fundamento perenemmente reformulado e contaminado por novos contributos, mesmo de mulheres europeias, que levantaram o véu a uma concepçom da natureza introduzida pola revoluçom científica do s. XVIII em Inglaterra e estendida rapidamente por toda Europa, e pouco a pouco, na onda do capitalismo, o colonialismo e a globalizaçom, por todo o planeta”.

- Uma companheira da UMAR falou da situaçom das mulheres num sector tam importante para Portugal como a pesca, onde persiste a sua invisibilidade pois nom têm estatuto reconhecido; estám a trabalhar com as pescadoras com a ajuda do projecto Equal europeu, também com outros países europeus com situaçons semelhantes, pois para a Uniom a pesca nom é importante, mas para alguns países sim; para Portugal é a segunda área mais importante.

- Uma companheira galega que trabalha com mulheres do rural entre Galiza e Andalucia assinalou a importância da relaçom com as associaçons de mulheres e o movimento feminista, e de estabelecer redes nom apenas aqui mas também com Latinoamérica.

- Uma companheira da MMM de Euskal Herria saudou-nos em euskara e falou de que na actualidade primam os critérios económicos a curto prazo, o qual nos trai transgénicos, hormonas, privatizaçom da energia, das infraestuturas, mudanças no consumo... As mulheres vivemo-lo no consumo e como produtoras, as nossas casas estám cada vez mais cheias de ondas, resíduos... Em Euskal Herria apenas o 3% das mulheres possuem mais de uma hectárea de terra, o resto fica à margem das ajudas. Advogou polo apoio às culturas das mulheres rurais e urbanas, primar as economias locais, as sementes autóctones. Falta conhecimento e redes de apoio entre mulheres.

- Uma companheira galega colocou a pergunta de como passamos à acçom, como unimos as mulheres urbanas e rurais. Lídia Senra assinalou a dificuldade de que as produtoras metam os seus produtos no mercado, e a das consumidoras de encontrá-los, a OMC impom-se, mas cada vez mais mulheres som conscientes disto.

- Uma mulher da COAG, agricultora ecológica, criticou a política Agrária Comunitária e a perda de valores.

- Uma mulher pertencente a uma associaçom de consumidoras/es de agricultura ecológica de Lugo animou a todas à auto-organizaçom: perante a dificuldade de achar estes produtos no mercado, as pessoas estám a associar-se e a comprar em comum estes produtos, dando prioridade aos produtos locais; também há associaçons deste tipo em outras cidades como Vigo.

- Outra mulher assinalou a importáncia de educar na alimentaçom desde a infância, p ex. o leite adaptado já condiciona as crianças desde o nascimento, as verduras...

- Uma outra companheira de EH falou do importante papel das mulheres como consumidoras, já nom na alimentaçom, mas na roupa, cosméticos, pensos e tampons... somos um alvo do consumo, e o nosso corpo nom deve sê-lo; chamou à sabotagem aos hipermercados.

- Rosa Serrano fechou dizendo que o controlo é duplo: dos alimentos e dos recursos biogenéticos dos países. Propujo trabalhar desde o local “pensar global, agir local”. Defendeu “seguir sendo países”, que é uma tarefa de todas as mulheres, nom apenas das camponesas. Boicotar os produtos norte-americanos pode ser uma opçom, mas há que ter em conta que nos EEUU também há pequenas agricultoras/es que estám a desaparecer, e que é importante unir-se.

Ourense, 26 de Maio de 2004
Mónica Gonçalves
Activista de MNG e da Coodenadora da MMM de Ourense



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